domingo, 9 de junho de 2013

Pará tem 180 mil crianças e adolescentes trabalhando

O índice de trabalho infantil no Pará aumenta em uma década e o Estado está entre as dez Unidades da Federação (UF) com os maiores percentuais de crianças e adolescentes ocupados em atividades profissionais. Entre 2000 e 2010, a proporção de jovens com idade entre 10 e 17 anos trabalhando aumentou em quase 5 pontos percentuais. São 180.088 menores de idade nessa faixa etária dividindo ou dedicando o período que deveria estar na escola com o mercado de trabalho. São quase 600 jovens a mais do que o registrado no início da década (179.612). Com esse número, o Pará é o sexto Estado do País com mais crianças e adolescentes trabalhando.
A quantidade é superior ao observado em quase todas as UFs das regiões Norte e Nordeste, exceto pela Bahia. Isso mesmo levando em conta que alguns Estados, como Ceará (1.372.454) e Pernambuco (1.329.229), tem uma quantidade maior de pessoas na faixa etária avaliada, em relação ao Pará (1.323.006). Os dados são do último Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com recorte específico relacionado ao trabalho infantil.
Conforme a Constituição Federal, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o trabalho é totalmente proibido até os 13 anos de idade. Entre 14 e 15 anos, é permitido somente na condição de aprendiz. Entre 16 e 17 anos, o trabalho é permitido, desde que não seja em condições perigosas ou insalubres e em horário noturno. O Pará tem 55.240 crianças de 10 a 13 anos trabalhando, das quais 34.140 em trabalhos do campo, como produção florestal e agricultura, 49.557 adolescentes com entre 14 e 15 anos realizando serviços nesse mesmo ramo e 75.291 jovens de 16 a 17 anos empenhados em funções profissionais diversas.
Um dado alarmante apresentado pelo levantamento é o de que quase 20% das crianças e adolescentes envolvidas em atividades profissionais não frequenta a Escola (35.855). Esse índice é exatamente o dobro da média de evasão escolar entre as pessoas nessa faixa de idade no Pará (10%). Também é bem maior do que o percentual de jovens desempregados que não frequentam as aulas (8,5%). A taxa de analfabetismo ainda é superior entre a parcela desse grupo de pessoas que está empregada (6,3%). O Estado tem o 6º maior índice de analfabetismo do País, entre crianças e jovens ocupadas profissionalmente. São 11.332 analfabetos e analfabetos que não frequentam a escola e trabalham rotineiramente.
Do pouco mais de 180 mil crianças e adolescentes trabalhando, no Estado do Pará, mais de 50% está na zona rural. O número de pessoas que vive em propriedades rurais e está no intervalo de idade avaliado pelo IBGE é de 460.225. Desse total, 21,3% tem responsabilidades profissionais. O contexto é bem diferente do apresentado pela zona urbana do Estado, que tem 862.780 desses jovens e 9,5% deles empenhados no mercado de trabalho.
Entre todas as crianças e adolescentes do Estado que possuem emprego, 49,5%, ou 89.080 pessoas, está envolvida com o ramo da agricultura, pecuária produção florestal, pesca e aquicultura. Outros 16,3% (29.269) estão atuando em comércios e oficinas de veículos e motos. Os 24,9% demais, 44.798 pessoas, trabalham com áreas não identificadas pelo IBGE na divulgação da pesquisa. Chama a atenção o fato de 34.126 crianças e adolescentes do Estado não receberem remuneração pela atividade exercida e 23% (41.402) trabalharem para o próprio consumo. Outro dado destacado é o de que 41.652 pessoas na faixa de idade especificada têm seu próprio empreendimento e 62.908 são funcionários de entidades públicas e privadas.
Na região Norte o cenário é um tanto quanto similar à apresentada pelo Estado do Pará. Em 2000 eram pouco 179.612 jovens nessa faixa de idade trabalhando. No Censo de 2010 foram identificados mais de 378 mil. O índice subiu de ocupação profissional de crianças e jovens subiu de 8,6% para 13,6% em 10 anos. O percentual de pessoas que não trabalhavam e não frequentavam a escola é de mais de 20%, enquanto a taxa de analfabetismo para esse grupo de nortistas supera os 5,8%, sendo superior aos índices encontrados para quem não trabalha (5,3%).
Em relação ao tipo de trabalho, 46% dos jovens nortistas está dedicado à agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (174.254), 15,9% ao comércio e oficinas de veículos (60.175) e 28,1%  a outros tipos de serviço (107.571). São 88.495 pessoas trabalhando na produção para consumo próprio, 67.339 trabalham sem receber nada em troca, 146.566 são funcionários de algum estabelecimento e 76.594 são donos do próprio negócio.
A diferença entre o Norte e o Pará está no fato de que há mais crianças e adolescentes trabalhando no meio urbano (200.106) do que na zona rural (178.888) - os níveis de ocupação chegam a 10,2% em relação ao total de jovens com essa idade em local urbano e 22,2% de pessoas trabalhando em relação ao número total de crianças e adolescentes (10 a 17 anos) vivendo em meio rural.

(Jornal O Liberal)

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