Este velho brocardo popular nos adverte que
conselho ou aviso prévio é próprio de amigos, conquanto nem sempre seguido, mas
não custa alertar para o que deverá sair de razões e/ou justificativas visando
a convencer os eleitores a votar pela tripartição do Pará, a partir de 11de
novembro próximo, quando terá início a propaganda eleitoral pelo rádio e TV.
Não mereceu o devido destaque que a nosso ver deveria ter sido dado às
declarações da ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora pelo Acre Marina
Silva em pronunciamento recente sobre a pretensão da criação do Estado do
Tapajós, mas que valem também, e até mais, para o do Carajás. Marina disse
“conhecer bem a realidade do Baixo Amazonas” e ponderou: “A população quer um
novo Estado para que cheguem recursos. Mas o problema é que os recursos serão
canalizados também para as câmaras legislativas, para as assembleias, para os
governos”.
A ex-senadora acriana, que é do ramo (política veterana que conhece à farta os
meandros da política e da politicalha e até sofreu na pele os efeitos
deletérios dessa abominável entretela eleitoral) e considerada – pelo menos até
aqui! – ficha limpíssima e de ética inatacável (daí porque julgamos deva ser
levada em boa conta pelos plebiscitantes, assim do Sim como do Não), falou o
que todo o mundo sabe, mas nem todos queriam ouvir, isto é: a criação do Estado
de Carajás e do Tocantins iria redundar num sorvedouro das verbas federais e de
recursos arrecadados pelos próprios pretensos noviestados para movimentar duas
máquinas administrativas inchadas, rotundas, gastadoras e certamente corruptas
como soem ser a maioria dos governos de hoje, dolorosamente, em nosso País.
Outro ponto que precisa ser devidamente aclarado aos plebiscitantes é o que se
tenta passar ao povo através de entrevistas “esclarecedoras”, pretendendo
provar que com a divisão em três do território parauara cada um deles vai
lucrar porque o Fundo de Participação dos Estados – FPE será a partir de então
conferido equitativamente a cada uma das unidades resultantes, baseado em
“estudos” realizados por um economista contratado pela trupe dudiana e que,
portanto, deverá ser então três vezes maior que o que ora nos é repassado. Mas
não dizem que as despesas que adviriam de imediato para suprir os neoestados da
infraestrutura administrativo-organizacional suplantam, de muito, os valores
advindos do FPE, consoante estudos – sérios – realizados pelo IPEA e agora
também pela UFPA e IDESP, bem como minguariam os recursos próprios auferidos
por cada um isoladamente.
Advirta-se mais que as neomáquinas governamentais além de edifícios que terão
de ser erguidos a fim de abrigar os órgãos de governo terão que contar também
com número incalculável de funcionários contratados – os conhecidos temporários
– para tocar o aparelho administrativo dos três poderes (executivo, legislativo
e judiciário), posto que durante vários anos, por óbvias razões, não poderá
haver concurso para preenchimento das vagas, contratados esses que serão
constituídos por parentes, “afilhados”, apaniguados,capos e donos de
“currais” eleitorais e gente do mais elevado QI (quem indica). Saúde e Educação
p. ex., como tem acontecido até aqui em extensão nacional, serão as últimas
áreas sociais a serem aquinhoadas com verbas e disposição política para implantá-las,
de modo que a formação de profissionais de nível superior para essas duas áreas
terá que ser feita aqui, no Pará-Mirim em que pensam transformar nosso atual
torrão parauara. Doentes acometidos de afecções mais graves, que demandem
tratamento clínico/cirúrgico de alta complexidade terão que vir buscar recursos
aqui, pois que lá não haverá disponibilidades, onerando, por muitos anos, o
orçamento da já então combalida arrecadação estadual, algo muito parecido,
semelhante ou até pior – pois em dose dupla – ao que ocorreu, por décadas, em
relação ao Estado do Amapá, desmembrado do Pará em 1943.
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Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
sergio.serpan@gmail.com
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